Viver com propósito

por Gustavo Souza

O autoconhecimento ou conhecimento de si é a investigação de si mesmo. Filósofos como Platão, Spinoza e Freud fazem parte de uma tradição que vê o autoconhecimento como uma conquista ou realização que traz saúde e liberdade para a pessoa. O autoconhecimento é uma realização, ao invés de algo dado ou prontamente disponível ao sujeito. Para conhecer-se a si mesmo, o sujeito precisa refletir, e interpretar a si mesmo.

Também pode ser um projeto ético, quando o que se busca é a realização de algo que leve o sujeito a ser mestre de si mesmo e, consequentemente, um ser humano melhor. O autoconhecimento pode ser obtido através da meditação (na ioga, por exemplo), psicoterapia, fenomenologia, psicologia cognitiva, psicologia comportamental, psicanálise etc.

IKIGAI

Em 2015, aproximadamente 550 mil pessoas morreram por armas de fogo (150 mil em guerras) e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), foram mais de 650 mil pessoas que cometeram suicídio, tornando a falta de propósito o grande vilão de nosso século.

Viktor Frankl, psiquiatra austríaco, indica que a busca pelo sentido da vida é a principal motivação do ser humano, fator este que determina a relação que possuímos com tudo aquilo que somos e fazemos. A partir do momento que esta necessidade não é alcançada, a vida nos parece vazia e sem sentido.

Atualmente, conseguimos perceber, direta ou indiretamente, o vazio causado pela falta de propósito e sentido na vida. Uma forma de compreender a complexidade e importância disto é se questionar:

  • Qual o conjunto de coisas que dão sentido para sua vida?
  • Qual é o fator principal que faz você despertar toda manhã?
  • Quanto tempo você investe questionando sobre assuntos existenciais?

A palavra IKIGAI tem origem em um pequeno povoado localizado na ilha Okinawa, no sul do Japão. Deriva de IKI, que significa vida, e KAI, realização de desejos e expectativas (生き甲斐). Os moradores desse arquipélogo (denominado ilhas Ryukyu) encontraram em seu cotidiano uma forma singular de viver a vida.

Acharam sua “razão de viver” ou o “motivo pelo qual acordar todas as manhãs” e sentiram os benefícios que os foram propiciados. Com isso, diversas universidades buscaram estudar a fim de entender e replicar este modelo que está na base da filosofia de vida IKIGAI. Não é à toa que nessa ilha, e devido também a esta filosofia, as pessoas tendem a viver além dos 100 anos de idade!

Para os japoneses, todos nós possuímos nosso IKIGAI. É necessário descobrir qual a nossa razão de ser e, para isso, é preciso uma busca profunda de si mesmo. Somente a partir dela é possível trazer satisfação e significado para sua vida.

Em vários estudos, foi provado que pessoas com propósito de vida bem estabelecida possuem mais chances de viver uma vida mais longa.

IKIGAI = VIVER COM PROPÓSITO (METODOLOGIA + ESTILO DE VIDA)

Como filosofia, o círculo IKIGAI nos aponta esta correlação. Mas para alcançar mudança, somente a metodologia (o meio para atingir) consegue responder satisfatoriamente a estas questões existenciais. O círculo IKIGAI consegue sintetizar de uma forma simples as correlações entre os 4 grandes campos da vida que fazem parte da cultura IKIGAI e que aborda as diferentes áreas e intercessões de uma vida plena de razão de ser.

ELEMENTOS DO IKIGAI

1.     O QUE EU AMO FAZER

Para que a transformação e a realização do potencial humano possa ser iniciado é necessário saber responder o que eu amo fazer?

Essa é a essência para que encontremos o que, para a filosofia e metodologia IKIGAI, é a nossa motivação profunda. A palavra motivação origina-se em “motivo para a ação”, ou seja, para termo uma motivação de fato é necessário saber o que nos move.

2.     O QUE EU POSSO FAZER BEM FEITO

Este é o ponto que surge de nosso compromisso com a excelência, pois apenas amar uma atividade não é o suficiente para determinar que seremos bons naquilo que fazemos. Ser referência, na visão IKIGAI, tem pouco a ver com reconhecimento exterior (sucesso), contudo está diretamente relacionado com sentido de propósito e missão, fator aqui denominado de grandeza.

3.     O QUE POSSO SER PAGO PARA FAZER

Muitas pessoas acham que fazer o que se ama pode significar que não vão ganhar dinheiro. Todavia, este não é um raciocínio lógico ou válido para a visão IKIGAI. Para se ganhar dinheiro preservando a felicidade é preciso fazer o que se ama e de forma bem feita. Porém, é necessária a criação de um projeto que transforme esta competência em resultado financeiro efetivo.

4.     O QUE É BOM PARA O MUNDO

Uma vida significativa perpassa pelo sentido de que o que realizamos causa resultados positivos para o mundo – leia-se, aqueles que nos cercam ou que de alguma forma são impactados por nossas ações. Portanto, na filosofia IKIGAI, isso não precisa necessariamente estar associado com “causas sociais ou ambientais”. Refere-se, sim, ao sentido profundo de ação altruísta e resultados positivos de nosso trabalho ou atitudes.

INTERCESSÃO 1-2: PAIXÃO

A origem latina de paixão remete à dor (ato de suportar) e sofrimento (sufferre – estar sobre ferros). Mas não é este o sentido de paixão dentro do círculo IKIGAI. E sim o fazer sem esforço (apaixonadamente e em fluxo), algo que naturalmente acontece quando compreendemos os impactos positivos daquilo que realizamos (mérito).

INTERCESSÃO 2-3: PROFISSÃO

Vem do latim “professione”, que significa “declaração” e “ofício”. Só é um profissional aquele que se assume frente às competências que o definem e diferenciam, algo que nem sempre está presente em um trabalhador, uma vez que posso trabalhar com algo sem me entender como um profissional.

INTERCESSÃO 3-4: VOCAÇÃO

É o termo que tem derivação do latim “vocare” que significa “chamar”. É a habilidade – ou tendência – que leva o indivíduo a exercer determinada carreira ou profissão. Portanto, a vocação é o chamado para a ação que está presente na intercessão entre o que amamos fazer e quando resolvemos agir na direção deste chamado.

INTERCESSÃO 4-1: MISSÃO

A origem da palavra significa enviar, mandar (mittere). Portanto, descobrir a própria missão é o fechamento de uma vida culminada de significado e propósito, uma vez que é a resposta para a pergunta “para que eu vim?”. Na filosofia IKIGAI, entender a missão significa unir um elevado sentido de propósito com a percepção de nosso amor pelo que fazemos.

PERCEPÇÕES

Cada fase do círculo IKIGAI acarreta percepções. Segundo o International IKIGAI Methodology, essas percepções evidenciam os sentimentos que esta construção do círculo propicia em nossas vidas:

VIDA AGRADÁVEL – Encontramos o que amamos fazer, mas ainda não identificamos a necessidade de investir em nossa capacitação, profissionalização ou mesmo na busca pela excelência neste processo. Sentimos prazer com nossa atividade, mas pouco produzimos com ela.

VIDA PRODUTIVA – Não apenas sentimos prazer, mas assumimos o compromisso com a excelência, criando um sentido de produtividade, engajamento e vontade de diferenciação no que realizamos.

VIDA PLENA – Além de tudo, encontramos meios para propiciar resultados financeiros satisfatórios, criando um sentimento de justa remuneração pelo esforço empregado (que agora já não parece tanto esforço assim).

VIDA SIGNIFICATIVA – Um forte sentido de gratidão surge e entendemos que nosso trabalho e ação sobre o mundo gerou um legado positivo. Neste ponto percebemos que nossa vida fez e faz sentido e que cumprimos com nossa missão existencial

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Fontes:  Instituto Próspera http://www.institutoprospera.com.br/  e Wikipedia